Foram quatro anos de luta até a aprovação do projeto de Lei nº 1916, em dezembro de 2024. Mas, a mobilização de homens e mulheres, trabalhadores(as) rurais, profissionais de saúde e gestores(as) rendeu frutos. Agora, moradores(as) de Espinosa, na região Norte de Minas Gerais, região endêmica para doença de Chagas, contam com a primeira associação de pessoas acometidas pela doença, a APD Chagas. 

A associação foi criada formalmente no dia 20 de dezembro de 2024, após aprovação na Câmara dos Vereadores e sanção da prefeitura. Na linha de frente dos esforços, esteve o senhor Edvar Pereira da Silva. Agricultor familiar e, como diz orgulhosamente, “homem do campo”, senhor Edvar recebeu o diagnóstico de doença de Chagas longe de casa. Precisou ir para São Paulo fazer exames por conta de problemas de saúde quando descobriu que tinha a doença. Desde então, tem atuado incansavelmente para divulgar a doença e reivindicar direitos para pessoas acometidas por uma das principais doenças negligenciadas no mundo. 

“Eu resolvi criar uma associação que apoia as pessoas com doença de Chagas. Essa é uma doença que desgasta, que traz transtorno e sofrimento. É chamada também doença de pobre, porque é uma doença do interior, né? É um título triste e é uma doença um pouco discriminada. As pessoas muitas vezes deixam de procurar tratamento, ficam receosas exatamente por causa dessa discriminação”. 

A ideia de criar a APD Chagas ganhou força a partir de 2021, com a implementação do projeto IntegraChagas Brasil em Espinosa. Financiado pelo Ministério da Saúde, o projeto está sendo implementado em cinco municípios brasileiros: São Luís de Montes Belos (GO); São Desidério (BA); Iguaracy (PE); Espinosa e Porteirinha (MG). O objetivo é ampliar o acesso ao diagnóstico e definir uma linha de cuidado para a doença de Chagas no país. Desde o início das atividades em Espinosa, mais de cinco mil testes rápidos para rastreio da doença foram feitos.  

Para além do apoio do projeto IntegraChagas Brasil, a mobilização social e o trabalho de lideranças sociais como senhor Edvar têm sido fundamentais no processo de identificar e cuidar das pessoas acometidas pela doença. Segundo estimativas do Ministério da Saúde, cerca de dois milhões de brasileiras e brasileiros convivem com a doença de Chagas. Mas, devido à falta de dados oficiais, o número pode ser muito maior.

De acordo com o II Consenso Brasileiro em Doença de Chagas, são quase 5 milhões de homens, mulheres e crianças com a doença, muitos dos quais desconhecem o próprio diagnóstico. A preocupação é ampliada pois a doença pode passar de mãe para filha(o), o que traz desafios adicionais para as ações de controle. 

Como e por que fazer o teste para doença de Chagas?   

Todos os serviços de saúde da rede de atenção primária de São Luís de Montes Belos (GO), Iguaracy (PE), Porteirinha (MG), Espinosa (MG) e São Desidério (BA) realizam a testagem para a doença de Chagas. Qualquer pessoa moradora dessas cidades pode fazer o teste, bastando comparecer na unidade de saúde com o cartão do SUS ou procurar o(a) agente comunitário(a) de saúde para agendar a testagem. 

Espinosa tem o terceiro maior índice de vulnerabilidade para doença de Chagas crônica entre esses cinco municípios do projeto. O diagnóstico correto é fundamental para que se institua o cuidado adequado. Doença de Chagas tem diagnóstico e tratamento. Fique sabendo!