Pela primeira vez, ações estratégicas de vigilância e atenção à saúde serão implementadas e validadas de forma integrada nos territórios, com apoio da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) e da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) do Ministério da Saúde do Brasil. A doença de Chagas, reconhecidamente uma condição crônica negligenciada, demanda serviços de saúde abrangentes para todas as pessoas acometidas, em sintonia com o tema do Dia Mundial da doença de Chagas de 2021 – “Serviços de saúde abrangentes e equitativos para todas as pessoas afetadas pela doença de Chagas”.

São inúmeras as barreiras existentes para o acesso ao diagnóstico e tratamento da doença de Chagas, a maior delas, na educação permanente aos profissionais de saúde e na educação popular em saúde. Profissionais e gestores em saúde capacitados, movimentos sociais empoderados, comunidades com suas lideranças mobilizadas e informadas podem reverter esta realidade que resulta em menos de 10% de pessoas diagnosticadas. Apenas 1% ou menos das pessoas tem acesso ao tratamento.

Em geral, os diagnósticos ocorrem na fase tardia, com comprometimento crônico e complicações, levando prejuízo às pessoas acometidas e suas famílias, elevando o custo ao Sistema Único de Saúde (SUS). Os processos formativos, de mobilização social e estratégias de mitigação, juntamente com o teste rápido de triagem, são novas estratégias para a ampliação do acesso ao diagnóstico da doença de Chagas e ao cuidado.

Vigilância Entomológica

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A vigilância entomológica começa pela identificação precisa dos triatomíneos (barbeiros) presentes em uma determinada região. Diferentes espécies de triatomíneos podem ser vetores da doença de Chagas, e a identificação correta é fundamental para entender os padrões de transmissão.
Neste sentido, é essencial monitorar as populações de triatomíneos ao longo do tempo. Isso permite avaliar as tendências sazonais, as mudanças na distribuição geográfica e a eficácia das medidas de controle implementadas. A coleta de dados sobre a presença de triatomíneos, sua abundância e infecção por T. cruzi é parte integrante da vigilância entomológica. Essa análise fornece informações valiosas sobre os fatores de risco e ajuda na elaboração de estratégias direcionadas.
Com base nos dados obtidos, são implementadas estratégias de controle direcionadas para reduzir a infestação, o que pode incluir melhorias nas condições habitacionais e educação ambiental comunitária sobre práticas de prevenção.
A vigilância entomológica, sanitária e ambiental devem estar integradas à vigilância epidemiológica, que monitora casos humanos de doença de Chagas. A combinação dessas abordagens permite uma compreensão abrangente da dinâmica da doença.

Vigilância de cães

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Os cães, assim como os seres humanos, são hospedeiros importantes para o parasita, desempenhando um papel crucial na cadeia de transmissão da doença. A vigilância canina visa monitorar e controlar a infecção por T. cruzi nessa população, contribuindo para a prevenção e mitigação da disseminação da doença.
A vigilância canina começa com a identificação de cães infectados com o T. cruzi. Isso geralmente é realizado por meio de exames laboratoriais, como testes sorológicos, que detectam a presença de anticorpos ou do próprio parasita no sangue dos animais. Em regiões endêmicas para a doença de Chagas, onde há presença conhecida de vetores transmissores, é crucial monitorar regularmente a população canina. Esse monitoramento permite identificar áreas com alta prevalência de infecção em cães, indicando potenciais focos de transmissão para humanos.
A vigilância de cães deve ser integrada aos programas de vigilância humana da doença de Chagas. A interação entre a infecção em cães e em seres humanos é uma parte essencial da compreensão da dinâmica da doença e da implementação eficaz de estratégias de controle.
Os proprietários de cães desempenham um papel fundamental na vigilância canina. Programas de educação e conscientização devem ser implementados para informar os donos sobre a importância dos exames veterinários regulares e a prevenção da transmissão da doença de Chagas entre cães e humanos.

Testagem

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A testagem possibilita o diagnóstico precoce da doença de Chagas, permitindo que os indivíduos infectados iniciem o tratamento oportuno. O diagnóstico precoce é essencial para evitar complicações a longo prazo, como doença cardíaca crônica, que pode ocorrer em casos não tratados.
Muitas pessoas infectadas podem permanecer assintomáticas por anos. A testagem é crucial para identificar portadores assintomáticos, que podem ser fontes de transmissão da doença, mesmo sem saberem que estão infectados. A testagem durante a gravidez é fundamental para prevenir a transmissão vertical da doença de Chagas, ou seja, a transmissão da mãe para o feto. O diagnóstico e tratamento adequados durante a gestação ajudam a reduzir significativamente o risco de transmissão congênita.
A testagem cria a oportunidade para que os indivíduos diagnosticados positivos acessem tratamento adequado. O tratamento na fase aguda da infecção é altamente eficaz, e mesmo em fases crônicas, pode contribuir para a redução da progressão da doença. Além do diagnóstico, a testagem promove a educação e conscientização sobre a doença de Chagas. Ao entenderem a importância da prevenção e tratamento, os indivíduos podem adotar medidas para proteger sua saúde e a de suas comunidades.

Linha de cuidado

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A estratégia de Linha de Cuidado tem como objetivo a garantia de acesso e cuidado integral no âmbito da APS a pessoas com diagnóstico de doença de Chagas, em estreita interface com ações de vigilância.

Monitoramento e Avaliação

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O monitoramento constante permite avaliar a prevalência da doença de Chagas em diferentes regiões e populações. Além disso, o acompanhamento da incidência ajuda a identificar áreas onde novos casos estão surgindo, indicando possíveis focos de transmissão. Esse monitoramento contínuo fornece informações sobre a eficácia das estratégias de controle implementadas, como o uso de inseticidas para controlar os vetores ou intervenções educacionais. Esses dados ajudam na adaptação e no aprimoramento das abordagens de prevenção.
Já a avaliação contínua dos programas de controle da doença de Chagas é essencial para determinar sua eficácia a longo prazo. Isso inclui a análise do uso de medicamentos, intervenções em habitações, educação comunitária e outras medidas implementadas.
O monitoramento e a avaliação também desempenham um papel crucial na promoção da conscientização pública. Ao comunicar resultados e tendências, é possível sensibilizar a população sobre a importância da prevenção, testagem e tratamento.

Engajamento Comunitário

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O engajamento comunitário começa com a conscientização e educação. Informar as comunidades sobre a doença de Chagas, seus sintomas, modos de transmissão e medidas preventivas é vital para promover uma compreensão abrangente da doença. A participação ativa das comunidades na promoção da testagem é essencial. Ao entender a importância do diagnóstico precoce, os membros da comunidade são incentivados a buscar exames regulares, facilitando a identificação rápida de casos e o início oportuno do tratamento.
O engajamento comunitário bem-sucedido leva em consideração as práticas culturais locais. Ao integrar abordagens culturalmente sensíveis, os programas de saúde pública podem ser mais eficazes, respeitando e adaptando-se às tradições das comunidades.
O compartilhamento de experiências positivas e histórias de sucesso relacionadas ao tratamento e controle da doença de Chagas dentro das comunidades pode inspirar outros a seguir o exemplo. Isso fortalece o senso de coletividade e incentiva práticas saudáveis. O engajamento comunitário não é uma atividade única, mas um processo contínuo. Coletar feedback das comunidades afetadas, envolvê-las na tomada de decisões e adaptar as estratégias de saúde pública com base nesse feedback são práticas fundamentais para um engajamento efetivo.

Saúde na escola

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O Saúde na Escola pode desempenhar um papel crucial na educação e conscientização sobre a doença de Chagas nas escolas. Incorporar informações sobre a doença nos currículos escolares ajuda os alunos a compreenderem os riscos, sintomas e medidas preventivas. A presença regular de profissionais de saúde nas escolas, como enfermeiros e agentes comunitários, facilita a identificação precoce de casos suspeitos de doença de Chagas. Essa detecção rápida pode levar a encaminhamentos para testagem e tratamento adequados.